LOVSER STORY

A DOR DO LUTO

Qui, 08/Mai 2025

Ep 9: A DOR DO LUTO

Notas do Episódio

TRANSCRIÇÃO

[COMEÇO DA GRAVAÇÃO]

CARVALHO: [Música começa] É inacreditável mesmo pensar que um dia o Teixeira andava por aí, e agora ele, bem, ele está a sete palmos abaixo da terra, decompondo e sendo comido por minhocas. Que Deus o carregue.

Ele morreu, bateu as botas, se foi, ele já era. Sinto inveja da coragem que ele teve em autodestruir-se por completo. Nunca sabemos quem tem esse tipo de coragem, mas sempre somos surpreendidos por aqueles que a tem. O rapaz que tirou a própria vida tinha dezoito anos e não viveu nem a metade da vida.

Imagine que o Teixeira não fez atrocidade alguma que seja irreversível naquela noite, que ele não saiu de casa e procurou uma ponte para pular e acabar com sua própria vida. Imagine que ele seguiu em frente e parou de se importar com os problemas de sua família, ou com os problemas pressionantes do ambiente militar. O Teixeira pôde, enfim, seguir uma profissão de sucesso e ter uma esposa e filhos. Um fim feliz.

Mas a realidade é sem finais felizes.

Talvez em um universo bem distante e paralelo exista um Teixeira com um final feliz, mas não nesse universo.
O Teixeira não viu saída alguma no fim do poço. Ninguém detectou as intenções dele, o garoto triste sabia esconder bem a sua dor emocional. E naquele dia, definitivamente decidiu, pensando sobre seu método de fuga da realidade que, a melhor alternativa de suas opções era pular de uma ponte e que se foda a droga do mundo.

Algumas horas depois, os moradores daquelas redondezas perceberam que alguém havia se jogado da ponte, um rapaz baixinho de cabelo curto, um soldado sangrando por cima das pedras e das águas frias daquele rio de cor marrom quase laranja.
Chamaram o serviço de emergência.
O jovem foi identificado como sendo o soldado Teixeira, bem, seu suicídio não funcionou de imediato. O soldado ainda respirava ofegante, mas sem consciência.

Os ponteiros do relógio marcavam meia-noite e nove minutos. Foi quando o Teixeira escreveu o seu último adeus para os soldados que servem na mesma base militar que ele, através de mensagens, se desculpou e escreveu o seu nome de guerra, sílaba por sílaba com letras grandes, como se estivesse gritando exatamente do mesmo jeito como ele bradava o seu nome de guerra.

TE-I-XE-I-RA.

Ao jogar-se ao fundo daquela ponte, com o impacto do seu corpo contra as pedras e da sua extrema dor física após o impacto o fizeram ficar inconsciente e mentalmente ausente.

Por volta de onze horas da manhã, os equipamentos que o mantinham vivo foram desligados e assim anunciaram a morte de Teixeira.

O funeral do Teixeira aconteceu pela tarde e por mais que eu quisesse estar presente para a última despedida dele, não pude comparecer. Não porque não tive coragem de vê-lo sem vida, mas porque estava de serviço de guarda. E quando se está de serviço de guarda, bem, eles impedem você de sair do quartel-general.

Talvez o Teixeira calculou o dia certo para se jogar da ponte, um dia em que estou de serviço.

A grande maioria dos outros soldados foram para o funeral. O sentimento é muito mais frustrante e doloroso, de saber que nunca vou ser capaz de fazer a última despedida olhando em seu rosto sem vida que, agora se torna pálido, e de poder tocar naquelas suas mãos que, agora se tornaram geladas e frias cruzadas em cima da sua barriga. Não consigo descrever mais nada.

As pessoas ao seu redor estão morrendo.

Ah, o luto é realmente doloroso.

Pessoas morrem todos os dias.

Pessoas próximas morrem raramente.

Pessoas amadas morrem da noite pro dia.

Talvez eu o amasse de maneira amigável, como um irmão que nunca tive. Não demonstrei isso e agora é tarde demais, muito, mas muito tarde mesmo. É realmente um sentimento irreal.

As lembranças são tudo o que restam e jamais quero perder essas lembranças.

[FIM DE GRAVAÇÃO]